
Já um carro precisa funcionar. Não adianta nada uma Ferrari, se ela não funciona.
Os eletrodos precisam estar no local certo. E isso precisa ser demonstrado, como 2+2=4. Não é uma questão de opinião, ou de sabedoria suprema e divina do médico. É matemática.
A estimulação precisa estar programada de forma correta.
O DBS precisa ser feito na pessoa correta. Na pessoa que se sabe, de antemão, antes da cirurgia, que existirá um bom resultado. Isso também não é questão de opinião ou de sabedoria suprema e divina do médico. Isso também é matemática, e deve ser demonstrado, no papel.
Por outro lado, não há promessa de melhora. A cirurgia não cura a doença, e sempre há riscos de complicações, eventualmente fatais. Mas, as complicações são raras, sendo largamente considerada uma cirurgia (i) segura e (ii) eficaz em todos os países desenvolvidos. No Brasil, é uma cirurgia de cobertura obrigatória por todos os Convênios, e também pelo SUS. Exatamente por ser segura e eficaz.
Indo mais adiante...
Paracetamol, Tylenol, é seguro e é eficaz contra a febre. No entanto, há riscos ao se tomar um 'simples Tylenol'. Sobre a sua eficácia, não é sempre que ele será capaz de abaixar a febre. Dependendo da causa da febre, da intensidade, da dose que for tomada, das condições da pessoa que tomar o Tylenol, etc. Se uma pessoa toma e a febre dela não abaixa, isso não significa que ele não funciona. Na verdade, o modo como foi tomado ou a situação para a qual ele foi usado, podem não ter sido adequados. Por exemplo: se uma pessoa adulta tomar 1 gota apenas, é lógico que não fará efeito ! E isso não significa que o Tylenol não funciona ! Igualmente, se tomar Tylenol para curar vômito, também não vai dar certo... 😜
Vamos voltar ao assunto DBS!
Para um neurocirurgião é muito fácil fazer um corte de 3cm no couro cabeludo, e um pequeno orificio no crânio. Só não consegue fazer quem não for neurocirurgião. Mas é preciso ter bom conhecimento da 'dose' = da programação do estimulador; saber se o caso é adequado para DBS, saber qual o local cerebral mais adequado para implantar o eletrodo, saber utilizar corretamente os métodos de localização para o eletrodo não ficar em lugar errado.
Para todas as fases, desde a avaliação para saber se o paciente é ou não candidato a DBS, até o ajuste do estimulador, passando pela cirurgia propriamente - é altamente recomendável haver um neurocirurgião com formação específica, especialista nisso. Normalmente, um neurocirurgião não é especialista ao mesmo tempo em hérnia de disco, tumor cerebral, aneurisma, DBS, etc. Quem vai a congressos de hérnia de disco, não vai a congressos de DBS. Se fosse o caso de ir a todos os congressos, não trabalharia, pois todas as semanas do ano estaria em congressos...
É necessário seguir protocolos, internacionais. É necessário seguir o que está escrito nos livros ! Se os protocolos não são seguidos, é bastante possível que os riscos serão maiores, e a eficácia reduzida. Ou seja: se não deu certo, 'o problema é mesmo do Tylenol'? Ou ele foi mal indicado? Dose correta? Localização de eletrodos correta?
DBS não deu certo? A culpa é de "DBS", ou ele foi mal feito?
DBS é loteria? Ora, sabemos que não é isso.
Outro assunto às vezes recorrente é que "a estimulação cerebral profunda leva a sintomas piores do que os da própria doença".
Teoricamente isso é facilmente resolvido com ajuste de programação do estimulador !
E o ajuste é facilmente feito, em apenas uma sessão, quando se sabe exatamente onde estão os eletrodos. Mas, se não houver nenhuma outra solução possível, se você simplesmente desligar o estimulador, não haverá mais nenhum efeito da cirurgia. Ou seja: se o DBS causa problemas, basta desligá-lo. Embora não seja uma situação boa, pois logicamente ninguém faz uma cirurgia dessas para não poder usar de seu funcionamento.
Enfim.
É isso.
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